quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

retrato pós-catapora


Então, eu fui agraciado com uma catapora em plenos 26 anos de idade. Sim, eu nunca tinha pegado quando eu era criança, a minha infância na cúpula de cristal me privou disso. E agora, peguei, e espero que esse papo de só se pegar isso uma vez  na vida seja verdade, porque é o tipo de doença pé no saco que só é suportável pegar uma vez mesmo, porque se tiver uma segunda, pode fazer meu óbito!

Foram 15 dias numa clausura total em que, mais do que nunca, eu tive que lidar com o “vazio”. Chega uma hora que nem todas opções de entretenimento disponíveis são satisfatórias, tu não tem mais saco de ver TV ou ler, e se tu ficar puto da cara com alguma coisa tu nem para onde correr, porque tu corre o risco de levar uma bala na testa se tu sair na rua, e ser confundido com um zumbi putrefato! Porque foi com isso que eu fiquei parecido!

Sabe, não sei dá para me chamar de narcisista e nem afrmar que sou completamente desapegado da aparência... Também não sei dá para me chamar de lindo, mas de feio também é demais, o que interessa é que eu estou em melhor forma física do que na minha adolescência. Para ter uma ideia, o retrato mental que tenho de mim aos 14 é um piá gordinho, com umas “bolotas” no cabelo ruim, e usando uma calça marrom de um tecido que parecia muito com um carpete – e até hoje eu me questiono onde minha mãe encontrou item de vestuário tão requintado! Afinal, eu dou sim algum valor para a aparência, e tu também dá! Sair da catapora com algumas craterinhas no rosto e manchas escrotas pelo resto do corpo foi uma coisa que abalou minha auto-estima – que sempre foi meio frágil! Eu demorei bastante para me acostumar com uma cicatriz no queixo e deixar de enxergar ela bem maior do que realmente era, e sei que acontece o mesmo com esses ABISMOS GIGANTESCOS SEM FUNDO que estou no rosto, e vai levar um tempinho para ver essas marcas com a importância que realmente têm, nenhuma. Mas anda díficil me olhar no espelho nos últimos tempos e me sentir confortável com o que vejo...

Nesse tempo em quarentena eu tive um sonho onde morava em um cemitério, e eu tinha que enterrar alguém e fazer o túmulo e tudo mais... No final, o túmulo ficava uma bosta e eu ficava muito incomodado com aquilo, porque tava tudo torto e feio, e eu decido procurar o “coveiro oficial” para da um jeito naquilo. Uma pessoa com quem costumo conversar sobre os meus acontecimentos oníricos, ponderou se essa cena não teria a ver com a importância desnecessária que às vezes eu dou para minha aparência, e se esse episódio no sonho não dizia a respeito da “superficialidade das coisas”, porque, no fim das contas, o morto estava enterrado, o túmulo feito, trabalho realizado, e o que contava já tinha se obtido... Enfim, reflita!

Eu sei que não são as CRATERAS da catapora que me fazem sentir feito, são outras questões, bem mais complexas... O fato é que essa catapora e todas as feridinhas físicas típicas da doença que brotaram por todo meu corpo, e me fizeram passar esses dias trancado comigo mesmo, com o vazio, com o tédio, com a feiura, foi propício para brotar muitas outras feridinhas emocionais latentes também... E aí é aquele negócio, tem todo o tempo que leva para cicatrizar completamente, e às vezes ficam marcas...

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